CAIXA DE MEDICAMENTOS VALE PRÉMIO EUROPEU A ALUNAS PORTUGUESAS

Para já é uma caixa em acrílico, de aspecto modesto, mas que pode vir a desempenhar um papel importante para quem tem problemas de mobilidade e tem de tomar diariamente vários medicamentos. Chama-se SmartKit e foi o projecto levado por três alunas da Escola Profissional de Rio Maior ao concurso para jovens cientistas da União Europeia. Resultado: a caixa de medicamentos “inteligente” recebeu o prémio de originalidade e pode vir a ser comercializada em breve, avança o jornal Público.

Em Junho deste ano chegou o primeiro prémio para o projecto SmartKit. Ficou em segundo lugar no 21.º Concurso Nacional para Jovens Cientistas e Investigadores, organizado pela Fundação da Juventude, e aberto o caminho para uma candidatura à 25.ª final europeia do EUCYS 2013 – European Union Contest for Young Scientists, que se realizou entre 20 e 25 passados.

Considerado “inovador” na primeira competição, voltou a receber o elogio em Praga pelo júri do EUCYS 2013, que considerou o projecto de Jéssica Marques, Jéssica Santos, ambas com 17 anos, e Soraia Gaspar, de 20, na área de Medicina, o mais original entre os 85 de várias áreas que foram a concurso e lhe atribuiu o prémio do European Patent Office, o gabinete europeu de patentes.

O SmartKit ainda é um protótipo. Feito em acrílico, permite guardar medicamentos para sete dias. Para cada dia existem seis compartimentos para as várias fases do dia, desde o jejum até ao deitar. É possível programar os alertas para as tomas manualmente, mas também por computador, tablet ou telemóvel, através de uma aplicação. Chegada a hora do medicamento é lançado um alerta sonoro e visual. O utilizador acciona um botão verde, a caixa abre e o medicamento é “entregue” ao doente num copo que se ergue através de um pequeno sistema elevatório. Se o doente falhar uma toma, o SmartKit permite o envio de uma mensagem ao cuidador, médico ou enfermeiro da pessoa a informar que não foi feita.

A ideia para a caixa partiu de uma das professoras da Escola Profissional de Rio Maior, médica de profissão. Ouvia queixas dos doentes a reclamar que era difícil tomar tantos medicamentos e às horas certas. Jéssica Marques, Jéssica Santos e Soraia Gaspar, na altura no 10.º ano do Curso Técnico Auxiliar de Saúde, pegaram na deixa e idealizaram o projecto, com o apoio de Maria João Maia, professora de Gestão e coordenadora de projectos de alunos, dos professores Anabela Figueiredo e Cristóvão Oliveira, e de Eusébio Almeida, colega do 11.º ano do Curso Técnico de Electrónica, Automação e Instrumentação.

Seguiu-se um estudo para saber se o kit teria espaço no mercado. “Tentámos perceber o que já existia nesta área. Descobrimos que a oferta existente era de produtos inseguros, frágeis”, conta a professora Maria João Maia.

Essa conclusão foi reforçada quando pediram a ajuda de idosos a cargo da Santa Casa da Misericórdia de Rio Maior para testarem as caixas de medicamentos que já existiam. Fizeram um vídeo e “foram muitas as dificuldades demonstradas pelos idosos e fragilidades pelos produtos”, diz a coordenadora.

Escola quer o SmartKit no mercado

Numa conversa telefónica com o Público, alunas e professores envolvidos no projecto deixaram transparecer o entusiasmo de terem criado o SmarKit e recebido uma distinção a nível internacional.

Jéssica Santos sublinhou que é um produto que “pode ajudar a melhorar a forma como os cuidados de saúde são prestados” e quando apresentado nos dois concursos nacional e europeu “recebeu uma boa resposta”.

Anabela Figueiredo, arquitecta e professora de Geometria Descritiva na escola profissional, explica que a caixa vai continuar a ser melhorada. A equipa está a “testar diferentes sistemas” de funcionamento e o seu tamanho final não será o que levaram a concurso. O design também é outro. “O SmartKit no final terá cerca de 20 centímetros de comprimento e vai ser ergonómico, de fácil manuseamento. Queremos que seja o mais leve e mais barato possível para chegar ao maior número de pessoas”. Para já, a escola profissional não possui os meios tecnológicos para produzir um produto mais pequeno que o protótipo.

Com os prémios conseguidos e confiança no SmartKit a escola contactou alguns laboratórios farmacêuticos para a possível produção da caixa. “Houve interesse no que levámos”, admite Maria João Maia, que não quer, para já revelar se dentro em breve poderemos ver a caixa de medicamentos comercializada.

“Segurança, autonomia e produto inovador” são já as garantidas da equipa, diz Anabela Figueiredo. O slogan também já está criado “SmarKit, vale uma vida”.

Jéssica Marques, Jéssica Santos e Soraia Gaspar estão agora no 11º ano. Eusébio no 12º. Os projectos para uma futura vida profissional não se cruzam para todos. A Jéssica Marques quer seguir algo na área da Educação quando for para a universidade. Jéssica Santos e Soraia querem ser enfermeiras. Eusébio quer seguir Engenharia Electrotécnica. Prometem continuar a trabalhar no SmartKit qualquer que sejam as suas escolhas profissionais.

Enquanto partilham algumas visões do seu futuro, a conversa com o Público é interrompida. “Acabou de chegar um email do ministério!”, alguém diz do outro lado da linha. A mensagem, assinada por Daniel Oliveira, chefe do gabinete do secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, é de felicitação às alunas, professores e escola. Serve também para sublinhar a atribuição de um prémio europeu a “alunos de uma escola profissional” e a “relevância do ensino e formação profissional”.

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